quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

FAMÍLIA
Dentre os desejos existentes no coração humano, um dos mais fortes é o de viver em pleno estado de amor. Amar e ser amado parece ser a maior ambição do ser humano e, por isso mesmo, a maior fonte de suas frustrações. Infelizmente, muitas pessoas vivem em um estado permanente de miséria afetiva, na solidão, com casamentos e com relações superficiais, insensíveis, sem nenhum envolvimento profundo.
            Por outro lado, as pessoas não podem realizar-se pertencendo apenas à comunidade de interesse comerciais, políticas. Elas necessitam de uma comunidade onde possam revelar-se como são, valorizar-se com seus limites estabelecendo conhecimentos próximos. A família é a primeira e permanente escola para a vida em comunidade. Nela a pessoa nasce, cresce, amadurece, faz seu aprendizado de interação, de cooperação e partilha, dando continuidade ao seu aprendizado, formando
sua própria família. É uma comunidade formadora, recebendo de Deus a missão para constituir-se célula vital e primária da sociedade.
                                      “A família é comunidade de amor. É escola de vida com outros homens e precisa exercer influência na sociedade inteira. Realmente, é na família que o homem começa a compreender que é um ser social e elabora estratégias para um viver cristão e humano com outras pessoas”.[1]
            Portanto, escola por excelência, a família é a escola da vida e da prática da aceitação do outro, espaço onde o ser humano se encontra como indivíduo. É uma comunidade de vida e amor. Porém, necessita exercer uma influência marcante na sociedade já que nos tempos de hoje, tem sido questionada por profundas transformações da sociedade e na cultura, onde a perda do sentido da vida humana é constante, as pessoas valem não por aquilo que são, mas por aquilo que possuem. O importante é ter, fazer, produzir e consumir, infelizmente, um mal social moderno.
A família passa hoje por grandes alterações em sua estrutura. No plano material, nota-se que ela perdeu sua estabilidade que estava baseada na casa, passando de geração a geração. Hoje, a família explodiu dispersando seus membros.
No plano econômico, a família não assume mais o caráter de uma unidade produtiva, onde gerar muitos filhos era de suma importância na geração de riqueza, transformando-se em uma unidade de consumo, reduzindo o número de filhos. No plano psicológico, o casamento e a família, passaram a ser entendidos muitas vezes como sinônimos de escravidão, pois, não possibilitam a mulher uma chance de liberdade. No plano social, a família está mais dependente do Estado. No plano religioso, a instituição familiar está perdendo seu aspecto religioso e sagrado.





[1] CNBB. Casamento e Família no Mundo de Hoje. Petrópolis, Vozes, 1993, pág. 46. O termo “homem” no texto, no meu entender, refere-se ao ser humano total.

domingo, 26 de junho de 2016


  1. MASSA DE MANOBRA
"É fácil entender um pensamento no mundo fictício, vou chamar esse mundo de "Planeta dos Macacos".
No Planeta dos macacos existem imperadores que reinam a centenas de anos, cada imperador impera sob a sua área específica, às vezes os imperadores se reunem e convidam a todos, por outras vezes reunem-se apenas entre eles.
Na maioria das vezes que os imperadores se reunem com outras pessoas, não aquelas que são seus súditos, as decisões já foram tomadas e requerem apenas que as "outras pessoas" assinem em baixo (às vezes basta balançar a cabeça). A essas outras pessoas os imperadores chamam de MASSA DE MANOBRA.
O conceito é de Pierre Bourdieu, e se refere a uma sociedade conduzida por uma ideologia dominante, se anulando enquanto ser protagonista. Essas pessoas sequer perceberam pois não são tratadas como MASSA DE MANOBRA.
A quem realmente interessa fazer com que o proletário, que conseguiu chegar ao suposto "poder", seja destituido dele?
Fácil entender, os imperadores sentem o risco de serem igualitários aos que hoje são "outras pessoas", então se juntam a elas e vendem uma falsa idéia de razoabilidade através de ameaças infundadas para fazê-las pensar que os imperadores tem razão. Lá vão as "outras pessoas" de novo serem MASSA DE MANOBRA.
A diferença é que as minorias estão passando a ter representatividade, e isso incomoda a quem impera já há anos. A minoria têm força, mas não pode se deixar tratar como MASSA DE MANOBRA!"

Admirável Gado Novo
A música Admirável Gado Novo (Vida de gado) do Zé Ramalho explicita bem esse ponto de vista:
Eh, ôô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz.
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos, do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais, do que receber.
E ter que demonstrar sua coragem
A margem do que possa aparecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem, lhe comer.
Lá fora faz um tempo confortável
À vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores, tempos idos
Contemplam essa vida, com a cela.
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo, se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar.
"acordamassademanobra"

quinta-feira, 31 de março de 2016


  1. Filipenses 4.8-9 

O desejo do Senhor é que sejamos transformados. Mas a nossa alma precisa ser restaurada. Nosso Espírito se expressa através da nossa personalidade, dos nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas atitudes, nosso corpo. E se não pusermos nossa mente em linha com a Palavra de Deus, bem como nossas emoções, nossa vontade e nosso corpo, a vida do Espírito dentro de nós será sufocada. Mas o propósito de Deus é que o inimigo permaneça do lado de fora. Chegou a hora de erradicarmos essas obras malignas, que Paulo chama de “obras da carne”. Se não tem havido mudanças em sua vida espiritual, algo está errado. Quem nasce precisa crescer, desenvolver-se e caminhar, progressivamente, rumo à maturidade. Por isso, estamos considerando a situação da mente, a sede da alma. A mente, ou pensamento ou intelecto, como já vimos no estudo anterior é algo muito importante, extraordinário. Deus deu ao ser humano uma capacidade de pensar, raciocinar, refletir, criar, etc. No entanto, apesar de tantas invenções maravilhosas, que trouxeram grandes avanços, ela também, a mente, sem Deus, tornou-se uma arma mortífera! Essas são as marcas da mente do ser humano, criando o bem e criando o mal. A mente deve ser conquistada até que cada pensamento seu seja sujeito à obediência de Cristo Jesus. Ou seja, até que cada idéia, pensamento ou raciocínio esteja em perfeita harmonia com a Palavra de Deus. O comando da Palavra é claro: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma. De todo o teu entendimento e de todas as tuas forças” ( Mc 12.30). Uma mente carnal é uma mente baseada na carne, nos sentidos. “A inclinação da carne é a morte” ( Rm 8.6). Nossa mente poder ser inclinada para a carne ou para o Espírito. Inclinar-se para a carne significa ser dominado/a pelo reino dos sentidos, isto é, o que se ouve, o que se vê e o que se sente. Inclinar-se para o Espírito quer dizer pensar nas coisas de Deus, na sua Palavra. Ser carnal é agir de acordo com os próprios pensamentos, o próprio raciocínio, tomar decisões baseadas na vontade própria alheia a Deus, seguir seu próprio caminho. Essa postura é contradiz o que nos ensina o Senhor! 
O CARÁTER DO CRISTÃO – HUMILDADE
De John Stott
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus  ( Mateus 5.3)
O Velho Testamento fornece os antecedentes necessários para a interpretação desta bem-aventurança. No princípio, ser “pobre” significava passar necessidades literalmente materiais. Mas, gradualmente, porque os necessitados não tinham outro refúgio a não ser Deus (Sf 3.12), a “pobreza” recebeu nuances espirituais e passou a ser identificada como uma humilde dependência de Deus.
Por isso o salmista intitulou-se “este aflito” que clamou a Deus em sua necessidade, “e o Senhor o ouviu, e o livrou de todas as suas tribulações” (Sl 134.6). O “aflito” (homem pobre) no Velho Testamento é aquele que está sofrendo e não tem capacidade de salvar-se por si mesmo e que, por isso, busca a salvação de Deus, reconhecendo que não tem direito à mesma. “O caráter do cristão – humildade”
Esta espécie de pobreza espiritual foi especialmente elogiada em Isaías. São “os aflitos e necessitados”, que “buscam águas, e não as há”, cuja “língua se seca de sede”, aos quais Deus promete abrir “rios nos altos desnudos, fontes no meio dos vales”e tornar “o deserto em açudes de águas, e a terra seca em mananciais” (Is 41.17,18).
“pobre” também foi descrito como “o contrito e abatido de espírito”, para quem Deus olha (embora seja “o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo”), e com quem se deleita em habitar (Is 57.15; 66.l,2). É para esse que o ungido do Senhor proclamaria as boas novas da salvação, uma profecia que Jesus conscientemente cumpriu na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, para pregar boas-novas aos quebrantados” (Is 61.1; Lc 4.18; cf. Mt 11.5.). “O caráter do cristão – humildade”
Mais ainda, os ricos inclinavam-se a transigir com o paganismo que os rodeava; eram os pobres que permaneciam fiéis a Deus. Por isso, a riqueza e o mundanismo, bem como a pobreza e a piedade, andavam juntas. Assim, ser “humilde (pobre) de espírito” é reconhecer nossa pobreza espiritual ou, falando claramente, a nossa falência espiritual diante de Deus, pois somos pecadores, sob a santa ira de Deus, e nada merecemos além do juízo de Deus. Nada temos a oferecer, nada a reivindicar, nada com que comprar o favor dos céus.
Nada em minhas mãos eu tragoSimplesmente à tua cruz me apego
Nu, espero que me vistas
Desamparado, aguardo a tua graça
Mau, à tua fonte corro
Lava-me, Salvador, ou morro
Esta é a linguagem do pobre (humilde) de espírito. Nosso lugar é ao lado do publicano da parábola de Jesus, clamando com os olhos baixos: “Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”. “O caráter do cristão – humildade”
Como Calvino escreveu: “Só aquele que, em si mesmo, foi reduzido a nada, e repousa na misericórdia de Deus, é pobre de espírito”. Esses, e tão somente esses, recebem o reino de Deus. Pois o reino de Deus que produz salvação é um dom tão absolutamente de graça quanto imerecido. Tem de ser aceito com a dependente humildade de uma criancinha.
Assim, bem no começo do Sermão do Monte, Jesus contradisse todos os juízos humanos e todas as expectativas nacionalistas do reino de Deus. O reino é concedido ao pobre, não ao rico; ao frágil, não ao poderoso; às criancinhas bastante humildes para aceitá-lo, não aos soldados que se vangloriam de poder obtê-lo através de sua própria bravura. “O caráter do cristão – humildade”
Nos tempos de nosso Senhor, quem entrou no reino não foram os fariseus, que se consideravam ricos, tão ricos em méritos que agradeciam a Deus por seus predicados: nem os zelotes, que sonhavam com o estabelecimento do reino com sangue e espada; mas foram os publicanos e as prostitutas, o refugo da sociedade humana, que sabiam que eram tão pobres que nada tinham para oferecer
nem para receber. Tudo o que podiam fazer era clamar pela misericórdia de Deus; ele ouviu o seu clamor. 
Talvez o melhor exemplo desta mesma verdade seja a igreja nominal de Laodicéia, à qual João recebeu ordem de enviar uma carta do Cristo glorificado. Ele citou as complacentes palavras dela, e acrescentou o seu próprio comentário: “Pois dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de cousa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17). “O caráter do cristão – humildade”
Esta igreja visível, apesar de toda a sua profissão cristã, não era de modo algum verdadeiramente cristã. Auto-satisfeita e superficial, era composta (de acordo com Jesus) de cegos e mendigos nus. Mas a tragédia era que não o admitiam. Eram ricos, não pobres, de espírito.
Ainda hoje, a condição indispensável para se receber o reino de Deus é o reconhecimento de nossa pobreza espiritual. Deus continua despedindo vazios os ricos (Lc 1.53).
Como disse C. H. Spurgeon: “Para subirmos no reino é preciso rebaixarmo-nos em nós mesmos”.

quinta-feira, 30 de abril de 2015


OS MOTIVOS PARA O CASAMENTO

Mateus 19.3-6

Nesse texto, em vez de voltar a Deuteronômio, Jesus voltou a Gênesis. Voltou ao que Deus fez quando institui o primeiro casamento ensina, por afirmação, o que Ele imaginava para um homem e uma mulher. Ao construir uma casamento segundo o padrão ideal de Deus, não é preciso preocupar-se com o divórcio.

A única coisa que não é considerada “boa” na criação foi o fato de um homem estar sozinho ( Gn 2.18). A mulher foi criada para suprir essa necessidade, preencher uma lacuna na criação!. Adão não poderia ter comunhão com os animais, é evidente! Precisa de uma companhia que fosse sua igual e com a qual pudesse experimentar a plenitude.

O casamento permite a perpetuação da raça humana e do sonho de Deus para ela. “Sede fecundos, multiplicai-vos” ( Gn 1.28) foi o mandamento de Deus ao primeiro casal. Desde o começo, Deus ordenou que sexo fosse praticado dentro da reelação comprometida do casamento. Fora do casamento, o sexo torna-se uma força destrutiva, mas dentro do compromisso amoroso do matrimônio, pode ser criativo, abençoador, curador e construtivo.

O casamento, segundo as Escrituras, é uma das formas de evitar pecados sexuais ( 1 Co 7.1-6). É evidente que um homem não deve se casar apenas para legalizar seus desejos sexuais! Aquele que se entrega aos desejos da carne antes do casamento, certamente, continuará a fazer o mesmo depois. Esse tipo de pessoa não deve ter a ilusão de que o casamento resolverá todos os seus problemas pessoais com lascívia. Porém, o casamento é a forma que Deus criou para homem e a mulher desfrutarem, em conjunto, os prazeres físicos do sexo.

Paulo usa o casamento como ilustração da relação intima entre Cristo e a Igreja ( Ef 5.22, 23). Assim como Eva saiu da costela de Adão ( Gn 2.21), também a Igreja nasceu do sofrimento e morte de Cristo na Cruz. Cristo ama a sua Igreja, Ele a purifica, cuida e a nutre com sua Palavra. A relação de Cristo com Sua Igreja é o exemplo a ser seguido por todos os casais, em especial, pelos maridos!

Outro texto que merece nossa analise, na mesma direção, é Gênesis 2.24, quando Senhor instruí sobre o união de homens e mulheres. Nele existem duas principais palavras hebraicas para o termo “um” yachid, que significa “singular”, “absoluto”, ou “indivisível”, e a palavra “echad” que transmite o sentido de “unido”, “composto”, ou “ligados”. O sentido de “echad” é encontrado na orientação do Senhor a Israel em Dt 6.4-5.

Este uso de “um” revela-nos a unidade de Deus na adversidade. Gênesis 2.24, promove um entendimento similar dos seres humanos. O Senhor unido é o padrão da unidade de Eva e Adão. O homem não deve esmagar a mulher, fazendo dela uma escrava, para que assim os dois possam se tornar um.

A mulher não precisa desaparecer como uma mulher, para que os dois possam se tornar um. Não, eles mantêm suas personalidades singulares, sua sexualidade e suas qualidades de alma. Eles são mais, juntos, do que a soma das suas partes. Eles e tornam echad, pois, essa é a proposta de Deus!

FONTES DE REFERÊNCIAS
MILLER, Darrow L. Mulher – A mão que Balança o Berço e Rege o Mundo; Curitiba, Publicações Transforma, 2015;

WARREN W. Wiersbe Comentário Bíblico Expositivo – Novo Testamento 1, Santo André, SP, Geográfica Editora, 2006.

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PATERNIDADE E MATERNIDADE RESPONSÁVEIS

 

Neste mundo  nada nos torna necessários, a não ser o amor”. GOETHE

 

            Questões como: que importância tem um filho, que significa uma nova vida para a humanidade, quantos filhos é possível criar com dignidade e a qualidade ou qual o espaço necessário para educá-los, são extremamente fundamentais para quem deseja gerar filhos. Gerar filhos é uma decisão seríssima que envolve as áreas mais profundas do ser humano. Necessita, acima de tudo, estar fundamentada no amor e no respeito. O casal necessita gerar os filhos com responsabilidade, nos diversos sentidos da vida, educá-los cristã e humanamente, avaliar suas condições econômicas para sustentá-los.

            Portanto, paternidade responsável significa gerar filhos e filhas que se tem condições de gerar e que se deseja gerar, levando-se em consideração os deveres do casal com Deus, consigo mesmo, com a família e para com a sociedade, proporcionando uma perspectiva igualitária, solidária, cooperativa, onde pai, mãe e filhos, compartilhem direitos, privilégios e responsabilidades.

            O projeto dos filhos contém não somente a aceitação de sua chegada, mas compromissos e empenhos a fim de dar-lhes o necessário para a sobrevivência e a maneira mais adequada para educá-los com carinho, compromisso, liberdade e responsabilidade, pois os filhos, precisam ser vistos como expressão de amor, como sinal do amor conjugal do casal. Assim,

“Faz parte da vocação do casal a paternidade e a maternidade. Ninguém é pai ou mãe apenas biologicamente. Homem e mulher se preparam para a chegada do filhos ( e das filhas ). Experimentam visivelmente uma transformação com sua chegada. Percebem que sua comunidade de amor e de vida se dilata. Geram não somente o corpo da uma criança, mas um ser de liberdade, inteligência, afeto. Este filho é o desdobramento do mistério da criança: é criado à imagem e semelhança de Deus e membro resgatado pelo sangue e pela ressurreição de Jesus”.[1]

            Segundo Pedro Cometti ( 1990 ), os pais são chamados a gerar filhos duas vezes: pela concepção e pela educação. Pressupondo desta forma, que a educação dos filhos é a máxima responsabilidade dos pais, dela não podem se desfazer delegando a educação à igreja, ao estado, à escola. Por direito e dever natural, a educação dos filhos cabe, em primeiro lugar, aos pais. Mas, quais são as possibilidades e dificuldades para a educação dos filhos?[2]

            Não se pode, sob nenhuma hipótese, deixar de se reconhecer que a educação dos filhos é bastante difícil devido às condições sociais e culturais da modernidade. Dentro deste quadro, podemos enumerar algumas dificuldades: em primeiro lugar, os filhos saem mais cedo do convívio da família, levando pais e filhos a viverem em mundos diversos, rompendo o elo educativo entre eles, ainda que se encontrem, todos os dias, sob o mesmo teto. Segundo, hoje a sociedade está organizada em função da produção e do consumo, que avalia a pessoa em função daquilo que sabe fazer e da sua capacidade de se inserir no sistema de produção, em detrimento do que ela é, dos seus valores interiores, sua bondade e inteligência. Infelizmente, a escola está se unindo, alinhando-se a esta cultura, eliminando as matérias que não servirão para inserir as pessoas neste mundo de produção.

            Por último, a sociedade moderna é o sentido provisório das coisas. Nada mais existe de estável, de certo. Tudo é descartável. O ser humano não vive mais no nível profundo do seu ser, mas no nível superficial do seu agir.

            No entanto, sob pena de traírem os próprios filhos, é essencial que os pais eduquem seus filhos em qualquer contexto social, num processo educativo global, envolvendo todos os setores da personalidade.

            A partir deste prisma, é importante que os pais eduquem seus filhos com o seu ser, ou seja, possam exercer sua educação através do contato, não somente o que fazer ou dizer, apesar de importantíssimo, mas, com exemplos daquilo que são.

            É indispensável que os pais dialoguem com os filhos, pois o diálogo constituí-se no grande segredo educativo, sendo a resposta a uma necessidade fundamental do homem. Porém, o diálogo não pode ser improvisado, é de suma importância que os filhos cresçam num clima permanente de diálogo. A transmissão de valores deve estar presente na paternidade e na maternidade responsáveis. Por isso, só será possível, se o casal os possuir e os mostrar na sua vida cotidiana, importando muito mais a vida do que os sermões.

            Não menos importante é o comportamento do casal no sentido de ter uma atitude coerente em relação ao discurso (coerência e não perfeição ) para que os filhos se sintam compreendidos e amados. Não é bom e saudável satisfazer os filhos, necessário é dar-lhes um amor verdadeiro, estimulando-os amar a Deus e aos outros, educá-los a partir das virtudes humanas, desenvolvendo uma formação pautada na reflexão, na força de vontade, na liberdade, na afetividade, no diálogo e na gratidão.

            No ponto de vista religioso, é necessário encaminhá-los não somente à prática da religião, mas a terem um relacionamento pessoal com Deus, de filhos para com o Pai.

“A verdade é que pais e mães não se improvisam. Conscientes das responsabilidades que lhes trás a chegada do filho, é preciso que se preparem para quem é esta, na verdade, a mais antiga e mais complexa profissão do mundo, a de pai e mãe, a fim de não comprometer de maneira irrecuperável o sucesso da missão.[3]

            Sendo assim, é preciso que o casal conheça ou estabeleça um planejamento, baseado em direitos e deveres, para um melhor desenvolvimento da estrutura familiar após a chegada dos filhos:

Direitos:

- Amar;

- Realizar-se como pessoas;

- Realizar-se profissionalmente;

- Estar em constante desenvolvimento.

Deveres:

- Cuidar dos filhos;

- Amá-los;

- Favorecer seu desenvolvimento físico, intelectual, moral e religioso.[4]

            É evidente, que poder-se - ia acrescentar outros direitos e deveres, no entanto, os já aqui colocados são de extrema relevância, pois, possibilitam, mesmo diante das adversidades, necessidades e dificuldades de toda a sorte, perspectivas de uma vida saudável, feliz, onde todos possam desenvolver seus ideais e projetos de vida e colaborar para uma equilibrada harmonia familiar.

 

pastorlugon@hotmail.com


[1] CNBB. Casamento & Ternura & Desafio.  Vozes, Petrópolis, 1995, pág. 100.
[2] COMETTI, Pedro. Família Hoje: Pensamentos de otimismo. São Paulo, Paulinas, 1990, pág. 45
[3] Gonçalves, Tida Lima. A Família Desafiada. São Paulo Paulos, 1994, pág. 156.
[4] SANTOS, Beni dos. Matrimônio e Família. São Paulo, Paulos, pág. 46
 

segunda-feira, 27 de abril de 2015



FAMÍLIA
Dentre os desejos existentes no coração humano, um dos mais fortes é o de viver em pleno estado de amor. Amar e ser amado parece ser a maior ambição do ser humano e, por isso mesmo, a maior fonte de suas frustrações. Infelizmente, muitas pessoas vivem em um estado permanente de miséria afetiva, na solidão, com casamentos e com relações superficiais, insensíveis, sem nenhum envolvimento profundo.
            Por outro lado, as pessoas não podem realizar-se pertencendo apenas à comunidade de interesse comerciais, políticas. Elas necessitam de uma comunidade onde possam revelar-se como são, valorizar-se com seus limites estabelecendo conhecimentos próximos. A família é a primeira e permanente escola para a vida em comunidade. Nela a pessoa nasce, cresce, amadurece, faz seu aprendizado de interação, de cooperação e partilha, dando continuidade ao seu aprendizado, formando
sua própria família. É uma comunidade formadora, recebendo de Deus a missão para constituir-se célula vital e primária da sociedade.
                                      “A família é comunidade de amor. É escola de vida com outros homens e precisa exercer influência na sociedade inteira. Realmente, é na família que o homem começa a compreender que é um ser social e elabora estratégias para um viver cristão e humano com outras pessoas”.[1]
            Portanto, escola por excelência, a família é a escola da vida e da prática da aceitação do outro, espaço onde o ser humano se encontra como indivíduo. É uma comunidade de vida e amor. Porém, necessita exercer uma influência marcante na sociedade já que nos tempos de hoje, tem sido questionada por profundas transformações da sociedade e na cultura, onde a perda do sentido da vida humana é constante, as pessoas valem não por aquilo que são, mas por aquilo que possuem. O importante é ter, fazer, produzir e consumir, infelizmente, um mal social moderno.
            A família passa hoje por grandes alterações em sua estrutura. No plano material, nota-se que ela perdeu sua estabilidade que estava baseada na casa, passando de geração a geração. Hoje, a família explodiu dispersando seus membros. No plano econômico, a família não assume mais o caráter de uma unidade produtiva, onde gerar muitos filhos era de suma importância na geração de riqueza, transformando-se em uma unidade de consumo, reduzindo o número de filhos. No plano psicológico, o casamento e a família, passaram a ser entendidos muitas vezes como sinônimos de escravidão, pois, não possibilitam a mulher uma chance de liberdade. No plano social, a família está mais dependente do Estado. No plano religioso, a instituição familiar está perdendo seu aspecto religioso e sagrado.
     “O estudo da família não pode ocorrer sem uma compreensão dos movimentos históricos, culturais, econômicos etc, que são inerentes aos processos humanos. A abordagem inter - disciplinar, a sociologia, a psicologia, a política, a economia, a religião, etc, podem enriquecer a compreensão de como se dá a estrutura familiar, suas diferentes formas de acontecer e as influências do contexto que está inserida”.[2]
            Além disso, nos tempos modernos, é crescente o número de famílias que não podem sobreviver com dignidade e ficam impedidas de cumprir seu papel social. Vive-se hoje num contexto onde cresce a visão da interdependência das pessoas para a realização do bem comum. Mesmo assim, diminui a proximidade entre grandes parcelas da população, decrescendo desta forma, a comunhão e a capacidade de relacionamento comunitário, aumentando o individualismo e a insensibilidade. Também, é possível notar um grande vazio e insatisfações nas realizações das pessoas independentes e auto-suficientes, que se encontram só, mesmo quando rodeadas de amigos, instaurando a cultura do descompromisso, do “descartável”.
            A cultura dominante nos meios de comunicação serve a outros interesses, promovendo o reducionismo, o materialismo e o secularismo, controlando os valores éticos/cristãos e a família. Assim, os relacionamentos tendem a ser superficiais, passageiros e de interesses próprios, tornando as pessoas objetos e não sujeitos de sua existência.
            Apesar de um crescente desenvolvimento técnico científico, que proporciona recursos para uma vida de progresso, é frustrante a realidade em que vive grande parcela da população, sem condições de sobrevivência e de dignidade, não podendo realizar seus direitos fundamentais. Numa observação mais atenta, percebe-se que as pessoas “socialmente privilegiadas” são escravas da luta pelo poder do possuir, do consumir, vivem sem experimentar a realização pessoal e interior, no vazio, com ansiedades e tensões.
            Outras transformações de grande relevância estão presentes nos dias de hoje: de um modo geral, a sociedade, e não mais a família, fornece ao indivíduo o trabalho profissional e sua identidade social. Até a educação foi assumida, em boa porcentagem, pela sociedade, os filhos escapam mais cedo da tutela dos pais. A família moderna tornou-se nuclear ou conjugal, sendo constituída pelo casal e pelos filhos menores, a hierarquia das idades e dos sexos estão se alterando com constância, restringindo-se desta maneira, a autoridade paterna. Hoje, a livre escolha do parceiro é um traço marcante da transformação da família. Nas diversas camadas sociais, a família tem o impacto direto da pornografia, alcoolismo, drogas, prostituição, da infidelidade conjugal, apresentando-se como vítima de uma estrutura injusta, não possuindo mais um caráter uniforme.
“A situação das famílias é também caracterizada por problemas sociais de natureza diversas, tais como atentados freqüentes aos direitos humanos, exploração e abuso, barreiras econômicas, sociais e culturais ao desenvolvimento integral de seus membros”.[3]
            A partir dos pressupostos apresentados até aqui, concluí-se que a instituição familiar tem passado por momentos de instabilidade, conflitos e crises. Vários aspectos têm contribuído para este quadro. Entre eles, pode-se destacar os seguintes: o relacionamento entre seus integrantes é vivenciado de forma e mentalidade utilitarista, o consumismo introduziu o primado do trabalho e do lucro em detrimento do diálogo, a evolução da família patriarcal para a família celular trouxe solidão e insegurança, a mídia tem bombardeado o núcleo familiar, já fragilizado, com mensagens banais, consumistas e desagregadoras, a cultura urbana leva ao desinteresse recíproco dos indivíduos e da família.
            Torna-se necessário, portanto, que se crie mecanismos de defesa, apoiados não só na cultura , mas também nos meios econômicos e legislativos, afim de salvaguardar a família das ameaças que ela vem sofrendo contra a deformação de sua missão pelos meios de comunicação social, pelo consumismo desenfreado e por legislações incoerentes e injustas. Levar as famílias a se inserirem no campo político, promovendo os seus verdadeiros valores. Tornando-a deste modo, uma comunidade de diálogo e de humanidade, onde haja respeito, confiança, sinceridade no estar junto e na co-responsabilidade, propiciando plena liberdade para a manifestação do amor, seja ele conjugal, paterno, materno, filial ou fraterno. Uma política que favoreça e promova as famílias das classes excluídas e menos favorecidas, particularmente, nas áreas de habitação, emprego, previdência, saúde e educação, e desenvolver canais que possam estimular a participação das famílias no campo político, visando a promoção e a defesa de seus direitos e valores.


[1] CNBB. Casamento e Família no Mundo de Hoje. Petrópolis, Vozes, 1993, pág. 46. O termo “homem” no texto, no meu entender, refere-se ao ser humano total.
[2] ROSA Ronaldo Sathler & CASTRO Dagmar Silva Pinto de. Compreendendo o que é Família. São Paulo, Editeo, 1995, pág. 9
[3] UNICEF. Família Brasileira: a base de tudo.  São Paulo, Cortez, 1994, pág. 12.